domingo, 2 de dezembro de 2012


A CRIANÇA E O PROCESSO DE LUTO



É sempre difícil lidar com o luto. Independentemente da faixa etária, quer se seja adulto ou criança, a perda de um ser amado causa sempre dor. Visto ser a tristeza um sentimento comum nas diferentes faixas etárias face à morte, tal como nos adultos, será comum que as crianças passem por períodos de profunda tristeza. E, tal como os adultos, as crianças necessitarão
 de sentir-se apoiadas e acompanhadas pelos que ama, de forma a superar esta dor, que realmente poderá nunca desaparecer inteiramente.

A forma como a criança reage perante a morte não é muito distinta da forma como lida com outras perdas, a intensidade é que pode diferir. Apesar de não serem rígidas, e de cada criança ser “um mundo”, é possível, de forma geral, verificar-se a existência de fases distintas na forma como lidam com o luto:


1- Choque: prende-se com o conjunto de reacções iniciais fase ao conhecimento da perda do objecto significativo. O tipo de reações varia muito de criança para criança, pelo que será de esperar o mais variado tipo de comportamentos, e aceitá-los enquanto naturais;


2- Protesto/Negação: esta fase é caracterizada pelo estado de dúvida e dificuldade em aceitar a perda. De forma inconsciente, este mecanismo de defesa faz com a criança não encare, ou procure não acreditar no sucedido;


3- Desorganização / Depressão: verifica-se quando se começa a encarar como real e irreversível o acontecimento traumático. Devido a tal, a criança sente-se frequentemente triste, poderá possuir sentimentos de culpa, ansiedade, medo e isolamento. O seu dia-a-dia poderá ser caracterizado pelas rápidas alterações de humor, bem como pela existência de comportamentos agressivos;


4- Reconstrução/Reorganização: após a dor da perda, a criança começa, aos poucos, a ajustar-se às mudanças que se sucederam na sua vida. Verifica-se um reajustamento na sua vida, no qual de certa forma aprende a lidar com a dor, mas não a viver para ela.


Apesar do luto não ser necessariamente caracterizado por um percurso linear, antes pelos diferentes avanços e retrocessos, e pelas diferenças de situação para situação, o conhecimento destas fases pode permitir uma melhor compreensão das diferentes reacções da criança, e assim uma melhor adaptação das respostas por parte dos adultos.


A forma como a criança suportará esta dor estará sempre ligada ao apoio que sente dos que lhe são próximos. Será esse apoio que lhe permitirá transmitir todos os sentimentos que a invadem, na procura de empatia, de compreensão e conforto. Daí o papel primordial da honestidade na relação. Aos adultos que acompanham a criança pede-se que manifestem também os seus sentimentos, que os partilhem com as crianças e que, através do seu exemplo, como modelos de relacionamento para a criança, a ajudem a encontrar estratégias para lidar com a sua dor.

A tristeza do luto funciona como um “alarme”, em que se pede aos que nos são mais próximos que se juntem, que apoiem, e que ajudem a ultrapassar a dor, em conjunto. Por parte da criança, o sentir que também ajuda os adultos a ultrapassar a sua dor, ajuda-o a sentir-se importante, e a acreditar que, em conjunto e tal como os adultos, conseguirá ultrapassar este período.

Acresce referir que o propósito do presente artigo não procura dar as respostas concretas, fórmulas ou constituir um manual de instruções para os pais/educadores. Ao invés de procurar essa tarefa destinada ao fracasso, procura, acima de tudo, ajudar os adultos que lidam com crianças que passam por situações de perda a sentirem-se mais confiantes de si e preparados para o momento em que se depararem com uma situação geradora de dor como a perda. Procura-se, acima de tudo, transmitir a consciência e a confiança de que os adultos possuem a capacidade de ajudar as crianças de forma eficaz a lidar com estas situações, sempre penosas. Recomenda-se apenas os ingredientes essenciais: o amor, aliado ao contributo insubstituível do tempo. Esse amor, quando baseado numa relação sólida e honesta entre um adulto e uma criança, é o principal instrumento para permitir à criança ultrapassar de forma eficaz o leque de emoções associados à perda, ajudando-a a reconciliar-se com a vida.


por Psicólogo Bruno Pereira Gomes

Matéria completa: http://aconversacompais.blogspot.com.br/2008/12/criana-e-o-luto.html


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