quarta-feira, 14 de março de 2012

Psiquiatrização da vida e o DSM V: desafios para o início do século XXI

Crianças que fazem muita birra sofrem de um distúrbio psiquiátrico recentemente descoberto, a chamada “desregulação do temperamento com disforia”. Adolescentes que apresentam de forma particular comportamentos extravagantes podem sofrer da “síndrome de risco psicótico”. Homens e mulheres que demonstram muito interesse por sexo, quer dizer, aqueles que têm fantasias, impulsos e comportamentos sexuais acima da temperança recomendada, muito provavelmente padecem do distúrbio psiquiátrico chamado “desordem hipersexual”. Confiram o texto de Paulo Amarante, Diretor do Cebes, e Fernando Freitas, ambos pesquisadores do LAPS/Fiocruz, sobre o novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

Essas são algumas das várias novidades que estão sendo propostas pela Associação Americana de Psiquiatria (conhecida internacionalmente como APA), para suceder o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), em vigor desde 1994. Há outras novidades que vem chamando a atenção de todos. Por exemplo, a “dependência à internet” e a “dependência a shopping”.

O que o DSM representa? Não apenas para a saúde pública propriamente dita, mas para a própria construção da subjetividade e intersubjetividade do homem contemporâneo? A medicalização crescente do nosso cotidiano.

Apenas para se ter uma ideia da chamada “inflação” dos distúrbios considerados objeto da psiquiatria: há cinquenta anos atrás eram seis as categorias de diagnóstico psiquiátrico, e hoje são mais de trezentas.

Nas últimas décadas o DSM tem servido como a bíblia para a chamada psiquiatria moderna e para os saberes e práticas subordinadas à sua hegemonia. Os autores de suas sucessivas edições argumentam suas pretensões são: (1) Fornecer uma “linguagem comum” para os clínicos; (2) Servir de “ferramenta” para os pesquisadores; (3) Ser uma “ponte” para a interface clínica/pesquisa; (4) Ser o “livro de referência” em saúde mental para professores e estudantes; (5) Disponibilizar o “código estatístico” para propósitos de pagamento dos serviços prestados e para fins administrativos do sistema de saúde; e, finalmente, (6) orientar “procedimentos forenses”.

Os impactos provocados por cada edição do DSM são inúmeros. Bem próximo de nós, está aí o exemplo da pesquisa da OMS sobre a saúde mental dos moradores da Metrópole de São Paulo. Segundo os resultados dessa pesquisa, cerca de 1/3 da sua população sofre de algum distúrbio psiquiátrico. A grande imprensa nacional tomou tal pesquisa para alertar à população que a situação do sistema de assistência em saúde mental do país está muito aquém das demandas dos cidadãos, muito em particular o SUS. E que sendo São Paulo uma megalópole de um país com tendências à urbanização acelerada, o seu exemplo deve ser considerado como alarmante.

O que escapa à maioria das pessoas que receberam essa notícia pela grande mídia são detalhes de grande importância para a credibilidade da própria pesquisa. Quem financiou essa pesquisa? Além da FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo), entre outros órgãos públicos, como a própria OMS e a OPAS? Foram grandes conglomerados da indústria farmacêutica: Ortho-McNeil Pharmaceutical, a GlaxoSmithKline, Bristol-Meyers Squibb e Shire. Curiosamente, os autores declaram não haver conflito de interesses. Se isto não é conflito de interesses então é necessário revisar este conceito!

O DSM-V chega sendo objeto de grandes controvérsias. Basta uma consulta na Internet para se tomar conhecimento das contundentes críticas feitas por alguns dos principais autores do DSM-III e DSM-IV. O que o DSM-V vem reforçar ao DSM-IV? Parece ser a tendência à medicalização dos comportamentos humanos de nossa época, ao transformá-los em patológicos em seus mínimos detalhes. Nos termos que vem se tornando públicos, o DSM-V reforça a tendência a assegurar e a ampliar o mercado da saúde mental: 1) o consumo arbitrário de medicamentos de natureza psicotrópica, sem qualquer cuidado com os seus efeitos sobre a própria saúde de seus consumidores; (2) a expansão de serviços de diagnóstico e de consultas; (3) a medicalização da vida.

Na medida em que o modelo “a-teórico” (como ele mesmo se define) do DSM nos possibilita constatar, principalmente a partir desta sua quinta versão, que seu objetivo real não é lançar luz sobre o conhecimento dos sofrimentos mentais, e sim produzir mais mercado para as intervenções psiquiátricas, cumpre à sociedade recusar este projeto medicalizante/patologizante. As entidades de saúde, particularmente as médicas, os Conselhos de Saúde e de Direitos Humanos, os órgãos públicos de normalização, regulação, fiscalização (Ministério da Saúde, Ministério Público, Conselhos Profissionais, dentre outros) precisam se posicionar e cobrar a responsabilidade dos autores e multiplicadores de tais iniciativas.

Fernando Freitas é Diretor da Abrasme e Pesquisador do LAPS/Fiocruz
Paulo Amarante é Presidente da Abrasme, Diretor do Cebes e Pesquisador do LAPS/Fiocruz

Fonte:www.cebes.org.br/internaEditoria.asp?idConteudo=2429&idSubCategoria=56

sexta-feira, 9 de março de 2012

I Congresso do Saber Psicanalítico - Realização: SINPESP
I Congresso do Saber Psicanalítico dos Sindicatos Brasileiros de Psicanálise. Realização: SINPESP Apoio: SINDPES - SINPERS

Data: 19.10.2012
Endereço: Rua Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana
Cidade: São Paulo
Estado: SP
Telefone: (11) 5575-2063
E-mail: sinpesp@sinpesp.com.br
Link:
www.sinpesp.com.br

Fonte:www.pol.org.br
Mulheres: Somos quase 90% da Psicologia brasileira

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) lançará pesquisa para conhecer melhor a categoria. Por meio de questionário, a pesquisa será realizada aleatoriamente via telefone, com quase duas mil psicólogas e psicólogos, a fim de compreender como o fato de a categoria ser, predominantemente, composta mulheres tem impactado a prática profissional. A pesquisa será lançada oficialmente durante o Debate Online Mulher: democracia, políticas públicas e cidadania, programado para o dia 28 de março às 10h.

O questionário vai abordar questões relevantes para o CFP, o perfil da psicóloga e do psicólogo pesquisado e o posicionamento destes frente a temas da Psicologia. Com base nos dados obtidos nesta pesquisa, o CFP conhecerá melhor as psicólogas brasileiras e desta forma traçará políticas que, em conjunto com as deliberações do VII CNP, dialoguem de forma mais direta com as necessidades da categoria.

Dados do Cadastro Nacional do Conselho Federal de Psicologia (CFP) apontam a existência de 215 mil profissionais de Psicologia. Desse total, aproximadamente 190 mil são mulheres.

Conferência das Mulheres

Segundo a conselheira Marilda Castelar, o CFP continuará discutindo o papel das mulheres como protagonistas de suas vidas. "As diretrizes da Conferência também nos dão subsídios para que o CFP continue qualificando a sua intervenção nesse campo", disse. Segundo Marilda, o contato com as psicólogas participantes da Conferência foi fundamental para uma articulação da Psicologia com o Movimento de Mulheres. "O evento nos permitiu conhecer práticas das psicólogas que já estão engajadas em várias dimensões do movimento [das Mulheres]", explica.

As diretrizes da Conferência são ferramentas de manutenção do Plano Nacional de Políticas para Mulheres do governo Federal. Além disso, elas também são ferramentas orientadoras de propostas para políticas públicas em âmbito nacional, estaduais e locais:

A autonomia das mulheres como princípio gerador das políticas e ações do poder público e que são propostas para a sociedade;
A busca da igualdade efetiva entre mulheres e homens, incidindo sobre as desigualdades sociais em todos os âmbitos;
O respeito à diversidade e combate a todas as formas de discriminação com medidas efetivas para tratar as desigualdades em suas especificidades;
O caráter laico do Estado como um princípio rigoroso de que as políticas públicas não podem se mover por definições religiosas;
A universalidade dos serviços e benefícios ofertados pelo Estado, o que exige justiça e transparência;
A participação ativa das mulheres no diagnóstico da realidade social, formulação das políticas, implementação, controle social.
Segundo a conselheira vice-presidente do CFP, Clara Goldman, a partir de 2010 muitas ações voltadas para dar visibilidade ao protagonismo feminino dentro da profissão foram empreendidas. A grande repercussão alcançada com o Prêmio Profissional Democracia e Cidadania Plena das Mulheres, cuja publicação será lançada no mês de abril, no Congresso da Ulapsi e disponibilizada na página do CFP, evidenciou inúmeras experiências qualificadas e de grande valor teórico e prático que talvez até então não tenham sido colocadas no cenário público da forma como o prêmio profissional promoveu.

Além disso, à época da campanha, em 2011, muitas psicólogas encaminharam imagens do seu cotidiano profissional, partilhando suas experiências, o que revela a construção da identidade da Psicologia brasileira com forte participação feminina.

A campanha realizada em 2011, Psicologia, profissão de muitas e diferentes mulheres, em conjunto com a pesquisa a ser realizada neste ano, constituem elementos propulsores da ideia de que a Psicologia precisa valorizar e reconhecer a contribuição feminina.

Finalmente com a pesquisa espera-se avançar ainda mais na compreensão do universo feminino presente na Psicologia e acerca das consequências desse protagonismo para a história da profissão.

Esperamos que a categoria, ao ser contatada pela instituição da pesquisa, acolha a iniciativa, participe e contribua para o futuro da profissão.

O Conselho Federal de Psicologia homenageia as companheiras psicólogas brasileiras e as convida para que acessem o site mulher.pol.org.br para participar das discussões que perpassam a temática "Mulher".

www.pol.org.br